Relatório do Estado do Ambiente dos Açores

Riscos Ambientais
Controlo Radiológico do Ambiente
  1. A Terra está sujeita a radiação cósmica e da sua constituição fazem parte alguns radionuclidos, forma instável de um elemento químico que liberta radiação ionizante quando toma uma forma estável. A radioatividade, para além de ser um fenómeno de origem natural, resulta da ação antropogénica com consequente utilização em diversas áreas de atividade. Neste sentido, a radiotividade resulta essencialmente de quatro fontes principais:

    • Exalação para a atmosfera de radão (Rn), 222Rn e 220Rn, formados através da desintegração radioativa do rádio (Ra), 226Ra e do 224Ra (constituintes naturais de solos e rochas) pertencentes às séries radioativas naturais do urânio e do tório, respetivamente;
    • Formação de radionuclidos cosmogénicos através da interação da radiação cósmica com gases atmosféricos como o carbono, o azoto e o oxigénio, como por exemplo o berílio (Be), 7Be;
    • Radioatividade natural tecnologicamente aumentada, resultante da utilização industrial de matérias-primas que contêm radionuclidos naturais;
    • Radionuclidos artificiais, produtos de cisão e ativação, em virtude de atividades antropogénicas (testes nucleares, produção de energia elétrica por via nuclear, produção de radioisótopos, acidentes, etc.).

    Independentemente da sua origem, os isótopos radioativos (átomos com o mesmo n.º atómico e diferente n.º de massa) podem ocorrer na atmosfera na forma gasosa ou particulada (associados ao aerossol atmosférico). A forma particulada é a que assume maior significado de risco radiológico, uma vez que essas partículas, através dos processos de transporte e deposição atmosférica, interagem com a biosfera.

     

  2. Vigilância radiológica no ambiente

    A exposição do homem à radioatividade pode afetar a sua saúde, nomeadamente, através de alterações genéticas e aparecimento de diversos tipos de neoplasias (leucemia, cancros do pulmão, pele, estômago, cólon, bexiga, mama e ovário, etc.). A exposição pode ser direta ou por via indireta através do meio ambiente, ar, água, solo e alimentos, devido à introdução acidental daquelas substâncias no meio ambiente.

    Com o objetivo de monitorizar a radioatividade do ambiente, foi criada a Rede de Vigilância em Contínuo da Radioatividade do Ambiente (RADNET), que é capaz de detetar situações de aumento anormal de radioatividade. A RADNET conta atualmente com 14 estações no país, existindo uma estação fixa em Ponta Delgada, sendo a sua gestão da responsabilidade da Agência Portuguesa do Ambiente.

  3. Relativamente aos valores médios anuais da taxa de dose de radiação gama no ambiente, os dados recolhidos entre 2010 e 2019 na estação de Ponta Delgada correspondem a valores do fundo radioativo natural do local onde ocorreu a medição. Este fundo radioativo natural varia em função da geologia local e da altitude. Pode, ainda, observar-se que as médias anuais se têm mantido constantes ao longo dos anos, permitindo concluir que não houve alteração significativa dos níveis de radiação gama no ambiente, sendo que a situação se tem mantido normal do ponto de vista radiológico.

    As situações de alarme são provocadas quando os níveis de radiação medidos são superiores a um limiar pré-fixado a partir da estação central, situada na Agência Portuguesa do Ambiente, que, atualmente, corresponde aproximadamente ao triplo do valor médio medido em situação normal.

  4. Para além da RADENT, é realizada, a nível nacional, a monitorização radiológica do ambiente através de amostras de aerossóis, de águas de superfície, de componentes da cadeia alimentar e de refeições completas. Esta monitorização, efetuada pelo Instituto Superior Técnico, inclui a Região Autónoma dos Açores, através da monitorização de amostras de componentes da cadeia alimentar e de leite.

    A eventual existência de radionuclidos artificiais nos alimentos é resultado da deposição atmosférica dos radionuclidos diretamente em alimentos de folha, como por exemplo a couve e a alface, ou indiretamente, através de pastagens, que servem de alimento aos animais, sendo posteriormente transferidos para a carne e para o leite.

    Dos resultados da monitorização radiológica a componentes da cadeia alimentar, realizada entre 2010 e 2018, conclui-se que os valores obtidos são baixos e que não têm apresentado variações significativas ao longo dos anos.

    No caso específico da Região Autónoma dos Açores, devido à sua localização geográfica, é usual a ocorrência de valores detetáveis de radionuclidos artificais, designadamente 137Cs e 90Sr, ainda que em concentrações muito reduzidas. Estas ocorrências são resultado da deposição atmosférica destes radionuclidos, cuja origem remonta aos testes nucleares realizadas na década de 60 do século XX e do acidente nuclear de Fukushima, ocorrido já no presente século.

Última atualização a 25-06-2020