Relatório do Estado do Ambiente dos Açores

Conservação da Natureza e Biodiversidade
Biodiversidade
  1. As condições climáticas, geográficas e geológicas dos Açores deram origem a uma grande variedade de biótopos, ecossistemas e paisagens que propiciam um elevado número de habitats e uma interessante diversidade de espécies, algumas delas endémicas.

    Todas estas espécies vivem portanto em habitats característicos, alguns deles muito raros, que se distribuem desde a costa até à montanha, tal como vulcões, grutas, florestas, matos, prados, pastagens, turfeiras, lagoas e ribeiras.

    Atualmente o número total de espécies e subespécies terrestres e dulçaquícolas listadas, está estimado em 6164, sendo 452 endémicas.

  2. Os animais são os mais diversos em endemismos, compreendendo cerca de 73% dos endemismos terrestres dos Açores. Os filos Mollusca (caracóis e lesmas) com 49 espécies e subespécies e os Arthropoda com 272 (P.A.V. Borges; unpublished data), são os mais expressivos em termos de número de taxa.

  3. A lista das plantas vasculares publicada conta com 73 endemismos. No entanto, este número não reflete a verdadeira realidade uma vez que estudos moleculares recentes têm revelado novos dados e novas espécies endémicas.

    Dentro das plantas vasculares são as mono e dicotiledóneas que apresentam maior número de espécies e subespécies endémicas, designadamente 65, seguindo-se os fetos com 6.

  4. Evolução das espécies Invasoras

    Os ecossistemas insulares, que detêm uma grande parte da biodiversidade global, são particularmente vulneráveis a invasões biológicas e a introdução de espécies exóticas invasoras nesses ecossistemas tem sido responsável pela extinção de grande número de espécies endémicas, sendo também hoje, no arquipélago dos Açores, a pressão destas espécies a causa dominante da perda de biodiversidade.

    Na realidade, as espécies exóticas invasoras são hoje consideradas a segunda causa de perda de biodiversidade global logo a seguir à destruição de habitats naturais, traduzindo-se em impactes negativos significativos em termos ambientais, económicos e sociais, ao nível local e ao nível global.

    Nos Açores cerca de 70% da flora vascular corresponde a espécies exóticas. Dessas espécies algumas revelam carácter invasor, sendo uma ameaça para as espécies da flora e da fauna autóctones e seus habitats.

    O Governo dos Açores, consciente desta problemática, desde 2004 tem vindo a implementar um projeto de conservação “in situ”, cujo objetivo é o controlo de espécies de flora invasora em áreas sensíveis em todas as ilhas do arquipélago dos Açores. Este projeto na maioria das vezes está associado a trabalhos de recuperação de comunidades vegetais autóctones.

    Inicialmente eram 16 a espécies alvo, no entanto, ao longo dos anos o número de espécies e área sujeitas a controlo tem vindo a crescer. No período 2011 - 2013 foram realizados trabalhos em cerca de 1200 ha através do controlo de 30 espécies e no período 2014 - 2016 em cerca de 2500 ha, através do controlo de 35 espécies, nomeadamente: Pittosporum undulatum, Hedychium gardnerarum, Hydrangea macrophylla, Arundo donax, Gunnera tinctoria, Clethra arborea, Carpobrothus edulis, Lantana camara, Ailanthus altíssima, Polygonum capitatum, Drosanthemum floribundum, Acacia melenoxylon, Ulex europaeus, Ipomoea indica, Ipomoea imperati, Rubus ulmifolius, Pteridium aquilinum, Leysesteria formosa, Metrosideros excelsa, Canna indica, Solanum mauritianum, Tritonia x crocosmiflora, Cortaderia selloana, Erigeron karvinskianuse, Phormium tenax, Ageratina adenophora ,Tamarix africana, Ficus carica, Rhaphiolepis umbellata, Crinum moorei, Zantedeschia aethiopica, Phytolacca americana, Tetragonia tetragonoides, Criptomeria japonica e Pinus pinaster.

  5. Em relação aos animais exóticos introduzidos continua a observar-se que nos Açores o impacto do coelho (Oryctolagus cuniculus) na flora nativa é considerado importante. Ainda são exemplo de espécies animais exóticas invasoras a ratazana–preta (Rattus ratus) e a ratazana–castanha (Rattus norvegicus) que não só invadem e destroem os ninhos, como se alimentam dos ovos, das crias e das próprias aves. Outras espécies muito preocupantes e prejudiciais no arquipélago são o escaravelho–japonês (Popillia japonica) e as térmitas, designadamente: a térmita-da-madeira-seca (Cryptotermes brevis), a térmita-de-madeira-húmida (Kalotermes flavicollis) e as térmitas subterrâneas (Reticulitermes flavipes e Reticulitermes grassei).

    Ao nível de ações de controlo de espécies de flora invasoras destaca-se ainda para o período 2014-2016 a implementação do projeto integrado no âmbito do Programa LIFE: Projeto LIFE12 NAT/PT/000527, Life Terras do Priolo.

    Nos últimos anos com a aplicação do disposto no Decreto Legislativo Regional nº 15/2012/A, de 2 de abril, que estabelece o regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade, relativamente à importação, detenção e introdução de espécies exóticas na Região tem sido evitada a entrada e a disseminação de espécies reconhecidas como uma ameaça, constituindo deste modo este diploma uma ferramenta importante para a gestão mais eficaz destas espécies.

Última atualização a 30-03-2017