Relatório do Estado do Ambiente dos Açores

Promoção e Educação Ambientais
Campanhas de promoção e educação ambiental marinhas
  1. A Campanha “SOS Cagarro” decorre nos Açores desde 1995, e tem como principal objetivo o salvamento dos cagarros juvenis encontrados junto às estradas e na sua proximidade, envolvendo para tal pessoas e entidades públicas e privadas . Alguns dos cagarros juvenis salvos nos Açores há mais de 7 anos já regressaram ao nosso arquipélago para acasalar e ter as suas crias. A Campanha SOS Cagarro decorre entre 15 de outubro e 15 de novembro, período da saída dos cagarros juvenis dos ninhos para o primeiro voo transoceânico. Esta campanha está organizada em 2 vertentes: a de Educação Ambiental e a de Conservação da Natureza.

  2. A campanha "Açores Entre Mares" decorre todos os anos, desde 2010, entre 20 de maio, Dia Europeu do Mar, e 8 de junho, Dia Mundial dos Oceanos. Conta com dezenas de atividades, nas nove ilhas da Região Autónoma dos Açores, da iniciativa da DRAM, dos Parques Naturais de Ilha e das entidades parceiras, que voluntariamente se associam à campanha. Pretende-se sensibilizar os cidadãos para as características, oportunidades e sensibilidades do ambiente marinho dos Açores.   

  3. LIXO MARINHO


    Na região, todos os anos, organizam-se dezenas de campanhas de limpeza das zonas costeiras (praias e zonas rochosas), emersas ou subaquáticas. Estas iniciativas contam com participação pública e têm como objetivo limpar troços específicos de costa e sensibilizar a sociedade para atuar no sentido de mitigar o problema ambiental do lixo marinho. Estas campanhas são organizadas por ONGs, associações diversas, grupos de cidadãos e entidades públicas, governamentais ou autárquicas. Elas, na sua maioria, são espontâneas, não periódicas, organizadas para limpar locais de fácil acesso, de utilização intensa, ou escolhidos por acumularem muito lixo. Muitas vezes são organizadas em datas comemorativas.

    Em 2015, no âmbito do Plano de Ação para o Lixo Marinho nos Açores (PALMA), coordenado pela Direção Regional dos Assuntos do Mar, foi implementado um programa de monitorização de recolha de resíduos em campanhas de limpeza da orla costeira e litoral submerso, que surgiu após constatação de que as campanhas já existentes, se monitorizadas, poderão fornecer um manancial de informação de grande utilidade para conhecermos melhor o problema do lixo marinho, no litoral das nossas ilhas.

    O programa assenta numa lógica de participação pública (Citizen Science) e tem vindo a gerar grande quantidade de informação, embora com pouco detalhe, que é analisada em conjunto com dados recolhidos por programas de monitorização científica complementares. Desde 2015 e até ao momento, através da análise de toda a informação reportada, no arquipélago dos Açores foram realizadas 174 campanhas de recolha de lixo marinho em zonas costeiras e 13 campanhas de recolha de lixo de fundo. Em todo o arquipélago já foram recolhidas mais de 37 toneladas de lixo marinho, sendo 33% plástico, 14% metal, 6% vidro e 47% indiferenciado (madeiras, tecidos, etc.).

     

     

  4. Campanhas de recolha de lixo marinho na orla costeira, nos Açores, de 2015 a 2019
    ZonaN.º de campanhasN.º de participantesPeso (kg)
    Fonte: DRAM (Direção Regional dos Assuntos do Mar)
    Santa Maria8238631
    São Miguel268325444
    Terceira223561295
    Graciosa152361753
    São Jorge307092975
    Pico2658016261
    Faial255103325
    Flores192883491
    Corvo351460
    Açores174380035635
  5. Campanhas de recolha de lixo marinho de fundo, nos Açores, de 2015 a 2019
    ZonaN.º de campanhasN.º de participantesPeso (kg)
    Fonte: DRAM (Direção Regional dos Assuntos do Mar)
    São Miguel21818
    Pico5106789
    Faial22201076
    Açores135612073
  6. Todos os projetos que integram o PALMA têm o objetivo de apoiar a implementação da Diretiva Quadro “Estratégia Marinha” (DQEM) na subdivisão Açores, de forma a avaliar a situação do lixo marinho na região, respondendo assim ao Descritor 10 e garantindo que “as propriedades e quantidade de lixo marinho não prejudicam o meio costeiro e marinho” de acordo com o estipulado na Decisão 2017/848/EU da Comissão, de 17 de maio. Em 2020, com a elaboração e publicação do documento “Estratégia Marinha: relatório do 2º ciclo”, em específico, o volume referente à avaliação do “Estado Ambiental Marinho e Definição de Metas” (MM, SRMCT e SRAAC, 2020), foi realizada uma nova avaliação da situação atual das zonas costeiras, superfície do mar e fundos marinhos, em relação à presença de lixo marinho, como também o impacto que estes resíduos apresentam na biodiversidade (como por exemplo, em tartarugas marinhas e cagarros). No que diz respeito às zonas costeiras, além das campanhas de recolha de lixo marinho, já referidas, desde 2016 têm vindo a ser efetuadas monitorizações regulares em 6 praias localizadas em 4 ilhas dos Açores (nomeadamente, São Lourenço em Santa Maria, Calhau da Areia e Pedreira em São Miguel, Praia do Almoxarife e Praia do Norte no Faial, e Praia da Areia no Corvo), seguindo o protocolo definido pela Comissão OSPAR (OSPAR, 2010) e no âmbito do “Projeto de Monitorização de Lixo Marinho em Praias OSPAR” (implementado pela DRAM e acompanhado pela equipa do Observatório do Mar dos Açores e o centro de investigação IMAR/OKEANOS, através do PEAMA – “Programa Estratégico para o Ambiente Marinho dos Açores”). O protocolo OSPAR foca-se na monitorização de macrolixo e a abundância de itens de lixo (nº itens/100m) foi avaliada por ano e agrupada por categorias (MM, SRMCT e SRAAC, 2020). Os resultados demonstraram que em todas as praias analisadas, o plástico é o material em maior abundância. A Praia do Almoxarife foi considerada a mais limpa das 6, sendo a mediana da abundância de plástico de 54 itens por cada 100 metros (MM, SRMCT e SRAAC, 2020).

    Quanto à presença de microlixo (itens de tamanhos compreendidos entre 1 e 5 mm) na zona costeira, os dados apresentados resultaram do trabalho realizado no âmbito dos projetos AZORLIT e LIXAZ, coordenados pelo o Dr. Christopher Pham do IMAR/OKEANOS (UAç), com o apoio operacional dos Vigilantes da Natureza dos Parques Naturais de Ilha, tendo sido realizadas monitorizações mensais entre 2016 e 2018 em 4 praias da região, nomeadamente, Calheta (ilha das Flores), Praia (ilha da Graciosa), Praia da Areia (ilha do Corvo) e Porto Pim (ilha do Faial) (MM, SRMCT e SRAAC, 2020). A praia de Porto Pim, revelou ser significativamente mais poluída que as restantes, com um valor médio de 103.17 itens por kg de sedimento seco, tendo a Praia da Areia (no Corvo) um valor médio de 14.42 itens por kg de sedimento seco, colocando-a na segunda posição com maior densidade de microplásticos (MM, SRMCT e SRAAC, 2020).

    Quanto à monitorização e resultados obtidos para macro e microlixo no fundo do mar, os dados foram obtidos no âmbito dos projetos AZORLIT e LIXAZ, em parceria com o Programa para a Observação das Pescas dos Açores (POPA) e o projeto INDICIT (Implementation Of Indicators Of Marine Litter On Sea Turtles And Biota In Regional Sea Conventions And Marine Strategy Framework Directive Areas). Na monitorização de macrolixo, a abundância de itens de lixo (nº itens/km2) foi avaliada por ano e por categoria (plástico, vidro/cerâmica, metal, papel, madeira, outro), tendo sido feitos 2228 transetos em todo o arquipélago, em 4 anos (MM, SRMCT e SRAAC, 2020). Os resultados apresentaram uma densidade de itens por 10km2 bastante reduzida e na maioria das áreas avaliadas não foram observados itens de lixo, embora se tenha verificado uma distribuição espacial mais concentrada junto às ilhas principalmente na zona do triângulo Faial, Pico e São Jorge, como também, junto à ilha de São Miguel (MM, SRMCT e SRAAC, 2020). Isto poderá justificar-se por estas serem zonas de maior tráfego marítimo, ou pelo fluxo das correntes oceânicas (MM, SRMCT e SRAAC, 2020).

    Quanto à monitorização de microlixo, esta centrou-se apenas em zonas costeiras à volta da ilha do Faial (baía de Porto Pim, praia do Almoxarife, estação de tratamento de resíduos, na freguesia da Praia do Norte e Fajã da Praia do Norte), sendo que a densidade de micropartículas é significativamente superior na baía de Porto Pim, com uma média de 228 277 itens por km2 (MM, SRMCT e SRAAC, 2020).

    Quanto à monitorização e resultados obtidos para macro no fundo do mar, os dados foram obtidos no âmbito dos projetos AZORLIT e LIXAZ, em parceria com o trabalho desenvolvido no âmbito do projeto “Monitorização de Lixo Marinho de Fundo”, parte integrante do PEAMA, coordenado pela DRAM e acompanhado pela equipa da Fundação Rebikoff-Niggeler. Foi avaliada a composição, a quantidade e a distribuição espacial do lixo de fundo nos Açores, tendo sido recolhidos dados durante 170 mergulhos efetuados entre 2008 e 2018 no grupo central do arquipélago, especificamente, no Banco Condor, Canal Faial-Pico, Mont’Ana, Cabeço do Luís, recorrendo a 6 plataformas visuais para a recolha de imagens (ROV SP, ROV Luso, Hopper Camera, Lula 500 e 1000) (MM, SRMCT e SRAAC, 2020). Os dados recolhidos revelaram que o plástico mantem-se como o material com maior predominância (com uma média de 661 itens por km2), sendo que a grande maioria apresentava estar relacionada com a pesca, principalmente artes de pesca perdidas (MM, SRMCT e SRAAC, 2020).

    Os estudos vieram revelar a vulnerabilidade do ecossistema marinho no arquipélago açoriano à evolução da problemática mundial causada pela presença de resíduos de plástico nos oceanos. Nos Açores, revelou-se que algumas espécies marinhas, nomeadamente as tartarugas e cagarros juvenis, estão especificamente afetados pelo lixo marinho, tendo o cagarro taxas de ingestão de 93% dos indivíduos amostrados, com valores médios para macrolixo de 0.008 g de lixo por individuo (com o intervalo de variação de 0 e 0.251 g por individuo) e para o microlixo de 0.023 g de lixo por individuo (variando entre 0 e 0.360 g por individuo) (MM, SRMCT e SRAAC, 2020). De qualquer forma, é necessário dar continuação aos estudos efetuados de forma elevar o conhecimento nesta área e permitir que as medidas de gestão futuras sejam eficientes na redução da entrada de plásticos nas nossas águas.

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Última atualização a 15-01-2020