Relatório do Estado do Ambiente dos Açores

Clima e Alterações Climáticas
Gases com efeito de estufa
  1. Para fazer face ao problema das alterações climáticas, torna-se essencial proceder à implementação de medidas de mitigação e adaptação, sendo que as primeiras visam reduzir a emissão de gases com efeito de estufa (GEE) para a atmosfera.

    Em 2016, com o objetivo da Região percebre a sua realidade em termos de emissão de gases de efeito de estufa, incluindo a identificação de quais os gases mais significativos e os setores onde estes têm origem,  foi elaborado Inventário Regional de Emissões por Fontes e Remoções por Sumidouros de Poluentes Atmosféricos (IRERPA), seguindo as metodologias oficiais definidas pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) e adotadas pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, com os dados de emissões relativos a 2014.

    As emissões, em 2014, totalizaram 1,72 Mt CO2eq., tendo o setor Uso de Solo e Florestas sido responsável por um sequestro líquido de cerca de 0,5 Mt CO2eq., o que coloca as emissões líquidas regionais em 1,22 Mt CO2eq. Estas emissões representam uma redução de 1,1% relativamente ao ano anterior continuando uma tendência de redução, após o máximo de 1,88 Mt CO2eq. atingido em 2009. No entanto, estes valores estão ainda 62% acima dos registados em 1990.

  2. De referir que, de acordo com as estimativas efetuadas, a emissão de gases com efeito de estufa da Região representa cerca de 2,3% do total nacional.

    O perfil de emissões por gás de efeito de estufa mantém-se também razoavelmente estável, com o dióxido de carbono (CO2) a representar cerca de 51% das emissões, sendo também o que mais cresceu (+63% desde 1990), tendo aumentado, em consequência, o seu peso no total de emissões. O gás menos expressivo é o óxido nitroso (N2O), que representa cerca de 12% das emissões. O setor energia é o principal emissor de CO2 e o setor agricultura é o principal emissor de CH4 e N2O.

  3. O perfil de emissões por setor mantém-se razoavelmente estável, com o setor energia a representar um pouco mais de 50% das emissões. O setor agricultura é o que mais cresceu (+74% desde 1990) e aumentou em consequência o seu peso no total de emissões.

  4. O setor energético representa atualmente 51,6% das emissões (não contabilizando o setor do uso de solo), o que equivale a um aumento do seu peso no total das emissões desde 1990 (51%).

  5. A principal fonte de emissão de gases com efeito de estufa resulta da utilização de combustíveis fósseis para uma multiplicade de utilizações, como sejam a produção de electricidade, de calor para uso doméstico e industrial e para os transportes. O setor energétivo conheceu um incremento muito substancial das suas emissões entre 1990 e 2009, com reduções de emissões desde então.

    As emissões de GEE do setor energético atingem cerca de 884 mil tCO2eq. em 2014, representando um aumento de 61,1% desde 1990. Os transportes são o maior contribuinte para as emissões do setor com 42,2%, atingindo cerca de 373,5 mil tCO2eq. em 2014.

    As emissões, na categoria de produção de energia e calor, atingem as 338 mil tCO2eq. em 2014 (+65,2% que em 1990), apresentando uma tendência decrescente nos últimos anos. O fuelóleo é responsável por 86,8% das emissões.

    As categorias de queima de combustível nas indústrias transformadora e de construção e em outros sectores (agricultura, florestas e pescas, residencial e comercial e institucional) são as menos significativas no setor energético, atingindo 149 mil tCO2eq. e 23 mil tCO2eq. em 2014, respetivamente.

  6. Para além das emissões que resultam do uso de combustíveis (contabilizadas no setor enegético), existem uma série de processos industriais e de produtos que emitem gases com efeito de estufa, sendo contabilizadas no setor de processos industriais e usos de produtos. Este representa atualmente pouco mais de 1,6 mil tCO2eq., ou seja 0,1% das emissões da Região.

    A produção de cal é o maior contribuinte para as emissões do setor com 51%, atingindo cerca de 821 tCO2eq., representando um decréscimo de 21,8% desde 1990. A emissões da categoria de utilização não energética de lubrificantes atingem as 783 tCO2eq.

  7. O setor agricultura cobre as emissões resultantes da produção animal, da aplicação de fertilizantes e de corretivos nos solos agrícolas e de pastagens, e da queima intencional de resíduos da agricultura. Os principais gases com relevância para o setor agricultura são o CH4, N2O e o CO2. No caso do N2O, são consideradas tanto as emissões diretas, como as emissões indiretas.

    A emissões de GEE do setor agrícola atingem as 701 mil tCO2eq., representando um aumento de 74,1% desde 1990.  A fermentação entérica é o maior contribuinte para as emissões do setor com 68%, atingindo 483 mil tCO2eq. em 2014. Esta categoria apresenta um crescimento das emissões desde 1990 de 88,0%, sendo que os bovinos representam 99,3% das emissões da categoria.

    As emissões da categoria da gestão de estrume atingem cerca de 35 mil tCO2eq. em 2014. As emissões de CH4 da gestão de estrume por tipo de animal apresenta um crescimento, desde 1990, de 31,3%. Os bovinos representam 71,6% das emissões da categoria, seguidos dos suínos com 26,9%. Por outro lado, as emissões de N2O nesta categoria apresentam uma redução de 23,7% das emissões desde 1990. As emissões indiretas representam 68,7% da categoria e o tipo de animal mais relevante são os suínos (19,6% da categoria).

    Relativamente às emissões de de solos agrícolas, estas apresentam um crescimento, desde 1990, de 50,5%. As emissões provenientes do estrume dos animais em pastoreio constituem, em 2014, 65% das emissões da categoria, representando um aumento de 52% relativamente a 1990.

     A queima de resíduos de cultura apresenta uma redução das emissões, desde 1990, de 59,2%, sendo mais pronunciada na vinha (-62%) do que nos pomares (-56%).

  8. Ao contrário do que sucede noutros setores, o setor Uso de Solo, Alterações de Uso de Solo e Florestas é responsável, quer por emissões de gases de efeito de estufa, quer pelo sequestro de Dióxido de Carbono. O setor cobre alterações nos stock de carbono que podem ocorrer tanto na biomassa viva, como na biomassa morta e nos solos. Cobre também emissões de metano e óxido nitroso de processos como fogos florestais e emissões diretas e indiretas que resultam da perda de matéria orgânica do solo. Os principais gases com relevância para o setor uso de solo são o CH4, N2O e o CO2. No caso do N2O, são consideradas tanto as emissões diretas, como as emissões indiretas.

    Este setor apresenta, em 2014, uma redução líquida de emissões correspondente a -29% das restantes emissões da Região. Esta capacidade de compensação do total de emissões regionais é hoje menor do que ocorria em 1990 (-45%), causada mais pelo aumento das emissões nos restantes setores do que por reduções da capacidade de sumidouro. A capacidade de sumidouro líquido do setor Uso de Solo e Florestas aumentou 2,8% entre 1990 e 2014.

    O sequetro líquido de GEE do setor atingem -494 mil tCO2eq em 2014. A capacidade de sumidouro líquido do setor Uso de Solo e Florestas aumentou 2,8% entre 1990 e 2014. A floresta é a maior categoria de sequestro com 504 mil tCO2eq. e as zonas urbanas a maior categoria emissora com 10,6 mil tCO2eq.

     

  9. O setor de resíduos cobre as emissões resultantes da deposição de resíduos sólidos, do tratamento biológico de resíduos, da incineração e queima a céu aberto de resíduos e do tratamento e descarga de águas residuais. Os principais gases com relevância para o setor resíduos são o CH4, N2O e o CO2. No caso do N2O, são consideradas tanto as emissões diretas, como as emissões indiretas.

    O setor de resíduos representa atualmente 7,5% das emissões da Região, o que representa uma dimunição do seu peso no total das emissões desde 1990 (11,4%). Este setor conheceu um aumento de 4,8% das suas emissões entre 1990 e o ano 2014, mostrando contudo uma relativa estabilidade das suas emissões.

     A emissões de GEE do setor atingem as 128 mil tCO2eq., representando um aumento de 4,8% desde 1990. A deposição de resíduos sólidos é o maior contribuinte para as emissões do setor com 56,2%, atingindo 72 mil tCO2eq. em 2014.

     

Última atualização a 30-03-2017