Relatório do Estado do Ambiente dos Açores

Clima e Alterações Climáticas
Gases com efeito de estufa
  1. Para fazer face ao problema das alterações climáticas, torna-se essencial proceder à implementação de medidas de mitigação e adaptação, sendo que as primeiras visam reduzir a emissão de gases com efeito de estufa (GEE) para a atmosfera.

    Com o objetivo da Região perceber a sua realidade em termos de emissão de gases de efeito de estufa, incluindo a identificação de quais os gases mais significativos e os setores onde estes têm origem,  desde 2016 é elaborado Inventário Regional de Emissões por Fontes e Remoções por Sumidouros de Poluentes Atmosféricos (IRERPA), seguindo as metodologias oficiais definidas pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) e adotadas pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas.

    O IRERPA 2019, com os dados de emissões relativos a 2017, apresenta um total de emissões de 1,8 Mt CO2eq., tendo o setor Uso de Solo e Florestas sido responsável por um sequestro líquido de cerca de 0,71 Mt CO2eq., o que coloca as emissões líquidas regionais em 1,09 Mt CO2eq. Estas emissões totais sem Usos de Solo e Florestas representam um aumento de 2,8% relativamente ao ano anterior. Estes valores estão 67,9% acima dos registados em 1990.

  2. De referir que, de acordo com as estimativas efetuadas, a emissão líquida de gases com efeito de estufa da Região representa cerca de 1,4% do total nacional (2,6% se excluirmos o setor uso de solos e florestas).

    O perfil de emissões por gás de efeito de estufa mantém-se também razoavelmente estável, com o dióxido de carbono (CO2) a representar cerca de 52% das emissões, sendo também o que mais cresceu (+63% desde 1990), tendo aumentado, em consequência, o seu peso no total de emissões. O gás menos expressivo é o óxido nitroso (N2O), que representa cerca de 12% das emissões. O setor energia é o principal emissor de CO2 e o setor agricultura é o principal emissor de CH4 e N2O.

  3. O perfil de emissões por setor mantém-se razoavelmente estável, com o setor energia a representar um pouco mais de 50% das emissões. O setor agricultura é o que mais cresceu (+82,7% desde 1990) e aumentou em consequência o seu peso no total de emissões.

  4. O setor energético representa atualmente 52,5% das emissões (não contabilizando o setor do uso de solo), o que equivale a um aumento do seu peso no total das emissões desde 1990 (73%).

  5. A principal fonte de emissão de gases com efeito de estufa resulta da utilização de combustíveis fósseis para uma multiplicidade de utilizações, como sejam a produção de electricidade, de calor para uso doméstico e industrial e para os transportes. O setor energétivo conheceu um incremento muito substancial das suas emissões entre 1990 e 2009, com redução de emissões até 2014 e um ligeiro aumento em 2017.

    As emissões de GEE do setor energético atingem cerca de 947 mil tCO2eq. em 2017, representando um aumento de 73% desde 1990. Os transportes são o maior contribuinte para as emissões do setor com 46,4%, atingindo cerca de 439 mil tCO2eq. em 2017.

    As emissões, na categoria de produção de energia e calor, atingem as 353 mil tCO2eq. em 2017 (+72,3% que em 1990), apresentando uma tendência decrescente nos últimos anos. O fuelóleo é responsável por 83,1% das emissões. A incineração de resíduos representa 2,7% do total de emissões (9,4 mil tCO2eq.) em 2017.

    As categorias de queima de combustível nas indústrias transformadora e de construção e em outros sectores (agricultura, florestas e pescas, residencial e comercial e institucional) são as menos significativas no setor energético, atingindo 131 mil tCO2eq. e 22 mil tCO2eq. em 2017, respetivamente.

  6. Para além das emissões que resultam do uso de combustíveis (contabilizadas no setor enegético), existem uma série de processos industriais e de produtos que emitem gases com efeito de estufa, sendo contabilizadas no setor de processos industriais e usos de produtos. Este representa atualmente pouco mais de 1,2 mil tCO2eq., ou seja 0,1% das emissões da Região, em 2017.

    Em 2017, o uso não-energético de lubrificantes é o maior contribuinte para as emissões do setor com 65,1%, atingindo cerca de 799 tCO2eq., representando um decréscimento de 20,9% desde 1990.

  7. O setor agricultura cobre as emissões resultantes da produção animal, da aplicação de fertilizantes e de corretivos nos solos agrícolas e de pastagens, e da queima intencional de resíduos da agricultura. Os principais gases com relevância para o setor agricultura são o CH4, N2O e o CO2. No caso do N2O, são consideradas tanto as emissões diretas, como as emissões indiretas.

    A emissões de GEE do setor agrícola atingem as 736 mil tCO2eq. em 2017, representando um aumento de 82,7% desde 1990.  A fermentação entérica é o maior contribuinte para as emissões do setor com 69,1%, atingindo 508 mil tCO2eq. em 2017. Esta categoria apresenta um crescimento das emissões desde 1990 de 98,1%, sendo que os bovinos representam 99,5% das emissões da categoria.

    As emissões da categoria da gestão de estrume atingem cerca de 36 mil tCO2eq. em 2017. As emissões de CH4 da gestão de estrume por tipo de animal apresenta um crescimento, desde 1990, de 35,4%. Os bovinos representam 73,5% das emissões da categoria, seguidos dos suínos com 25,1%. Por outro lado, as emissões de N2O nesta categoria apresentam uma redução de 20,1% das emissões desde 1990. As emissões indiretas representam 67,5% da categoria e o tipo de animal mais relevante são os suínos (19,3% da categoria).

    Relativamente às emissões de de solos agrícolas, estas apresentam um crescimento, desde 1990, de 56,9% em 2017. As emissões provenientes do estrume dos animais em pastoreio constituem, em 2017, 66% das emissões da categoria, representando um aumento de 99,8% relativamente a 1990.

     A queima de resíduos de cultura apresenta uma redução das emissões, desde 1990, de 59,2%, sendo mais pronunciada na vinha (-61,6%) do que nos pomares (-55,8%).

  8. Ao contrário do que sucede noutros setores, o setor Uso de Solo, Alterações de Uso de Solo e Florestas é responsável, quer por emissões de gases de efeito de estufa, quer pelo sequestro de Dióxido de Carbono. O setor cobre alterações nos stock de carbono que podem ocorrer tanto na biomassa viva, como na biomassa morta e nos solos. Cobre também emissões de metano e óxido nitroso de processos como fogos florestais e emissões diretas e indiretas que resultam da perda de matéria orgânica do solo. Os principais gases com relevância para o setor uso de solo são o CH4, N2O e o CO2. No caso do N2O, são consideradas tanto as emissões diretas, como as emissões indiretas.

    Este setor apresenta, em 2017, uma redução líquida de emissões correspondente a 39,5% das restantes emissões da Região. Esta capacidade de compensação do total de emissões regionais é hoje menor do que ocorria em 1990 (-75,6%), causada mais pelo aumento das emissões nos restantes setores do que por reduções da capacidade de sumidouro. A capacidade de sumidouro líquido do setor Uso de Solo e Florestas diminuiu 12,2% entre 1990 e 2017.

    O sequetro líquido de GEE do setor atingem -713 mil tCO2eq em 2017. A floresta é a maior categoria de sequestro com 722,5 mil tCO2eq. e as zonas urbanas a maior categoria emissora com 9,9 mil tCO2eq.

     

  9. O setor de resíduos cobre as emissões resultantes da deposição de resíduos sólidos, do tratamento biológico de resíduos, da incineração e queima a céu aberto de resíduos e do tratamento e descarga de águas residuais. Os principais gases com relevância para o setor resíduos são o CH4, N2O e o CO2. No caso do N2O, são consideradas tanto as emissões diretas, como as emissões indiretas.

    O setor de resíduos representa atualmente 6,6% das emissões da Região, o que representa uma dimunição do seu peso no total das emissões desde 1990 (11,4%). Este setor conheceu um decréscimo de 2,6% das suas emissões entre 1990 e o ano 2017, mostrando contudo uma relativa estabilidade das suas emissões.

     A emissões de GEE do setor atingem as 119 mil tCO2eq., representando uma diminuição de 2,6% desde 1990. A deposição de resíduos sólidos é o maior contribuinte para as emissões do setor com 51,8%, atingindo 61 mil tCO2eq. em 2017.

     

Última atualização a 15-01-2020