Para fazer face ao problema das alterações climáticas, torna-se essencial proceder à implementação de medidas de mitigação e adaptação, sendo que as primeiras visam reduzir a emissão de gases com efeito de estufa (GEE) para a atmosfera.
Com o objetivo da Região perceber a sua realidade em termos de emissão de gases de efeito de estufa, incluindo a identificação de quais os gases mais significativos e os setores onde estes têm origem, desde 2016 é elaborado o Inventário Regional de Emissões por Fontes e Remoções por Sumidouros de Poluentes Atmosféricos (IRERPA), seguindo as metodologias oficiais definidas pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) e adotadas pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas.
O IRERPA 2022, com os dados de emissões relativos a 2020, apresenta um total de emissões de 1,72 Mt CO2eq., tendo o setor Uso de Solo e Florestas sido responsável por um sequestro líquido de cerca de 0,016 Mt CO2eq., o que coloca as emissões líquidas regionais em 1,70 Mt CO2eq. Estas emissões totais sem Usos de Solo e Florestas representam um decréscimo de 5,2% relativamente ao ano anterior. Estes valores estão 54,4% acima dos registados em 1990.
De referir que, de acordo com as estimativas efetuadas, a emissão líquida de gases com efeito de estufa da Região representa cerca de 3,1% do total nacional (3,2% se excluirmos o setor uso de solos e florestas).
O perfil de emissões por gás de efeito de estufa mantém-se também razoavelmente estável, com o dióxido de carbono (CO2) a representar cerca de 49% das emissões, seguido do metano (CH4), que representou cerca de 39% das emissões, sendo este último o que mais cresceu (+67% desde 1990), tendo aumentado, em consequência, o seu peso no total de emissões. O gás menos expressivo é o óxido nitroso (N2O), que representa cerca de 12% das emissões. O setor energia é o principal emissor de CO2 e o setor agricultura é o principal emissor de CH4 e N2O.
O perfil de emissões por setor mantém-se razoavelmente estável, com o setor energia a representar um pouco menos de 50% das emissões. O setor agricultura é o que mais cresceu (+88,2% desde 1990) e aumentou em consequência o seu peso no total de emissões.
O setor energético representa atualmente 49,2% das emissões (não contabilizando o setor do uso de solo), o que representa uma ligeira diminuição do seu peso total das emissões desde 1990, ano em que este setor representava 52,6% das emissões.
A principal fonte de emissão de gases com efeito de estufa resulta da utilização de combustíveis fósseis para uma multiplicidade de utilizações, como sejam a produção de eletricidade, de calor para uso doméstico e industrial e para os transportes. O setor energético conheceu um incremento muito substancial das suas emissões entre 1990 e 2009, tendo vindo a decrescer desde então, ainda que com um ligeiro aumento em 2017.
As emissões de GEE do setor energético atingem cerca de 845 mil tCO2eq. em 2020, representando um aumento de 44,4% desde 1990. A categoria de produção de eletricidade e calor foi, em 2020, o maior contribuinte para as emissões do setor com 39,4%, com a emissão de 333 mil tCO2eq. em 2020. O fuelóleo é responsável por 86,5% destas emissões. A incineração de resíduos representa 4,7% do total das emissões desta categoria (15,7 mil tCO2eq.) em 2020.
As emissões na categoria dos transportes corresponderam a 38,1% das emissões do setor, tendo atingido as 322 mil tCO2eq. em 2020 (+35,9% que em 1990), ainda que estes resultados tenham sido influenciados pela redução da mobilidade decorrente das medidas de combate à pandemia por Covid-19.
As categorias de queima de combustível nas indústrias transformadora e de construção e em outros setores (agricultura, florestas e pescas, residencial e comercial e institucional) são as menos significativas no setor energético, atingindo 54 mil tCO2eq. e 136 mil tCO2eq. em 2020, respetivamente.
Para além das emissões que resultam do uso de combustíveis (contabilizadas no setor energético), existe uma série de processos industriais e de produtos que emitem gases com efeito de estufa, sendo contabilizadas no setor de processos industriais e usos de produtos. Este representa atualmente apenas 0,8 mil tCO2eq. em 2020, ou seja 0,05% das emissões no mesmo ano, decorrentes do uso não-energético de lubrificantes, com um decréscimo de 48,8% desde 1990.
O setor da agricultura cobre as emissões resultantes da produção animal, da aplicação de fertilizantes e de corretivos nos solos agrícolas e de pastagens, e da queima intencional de resíduos da agricultura. Os principais gases com relevância para o setor agricultura são o CH4, N2O e o CO2. No caso do N2O, são consideradas tanto as emissões diretas, como as emissões indiretas.
A emissões de GEE do setor agrícola atingem as 758 mil tCO2eq. em 2020, representando um aumento de 88,2% desde 1990. A fermentação entérica é o maior contribuinte para as emissões do setor com 69,3%, atingindo 525 mil tCO2eq. em 2020. Esta categoria apresenta um crescimento das emissões desde 1990 de 104,7%, sendo que os bovinos representam 99,4% das emissões da categoria.
As emissões da categoria da gestão de estrume atingem cerca de 40 mil tCO2eq. em 2020. As emissões de CH4 da gestão de estrume por tipo de animal apresenta um crescimento, desde 1990, de 49,9%. Os bovinos representam 68,6% das emissões da categoria, seguidos dos suínos com 28,7%. Por outro lado, as emissões de N2O nesta categoria apresentam uma redução de 6,6% das emissões desde 1990. As emissões indiretas representam 69,2% da categoria e o tipo de animal mais relevante são os suínos (17,9% da categoria).
Relativamente às emissões de de solos agrícolas, estas apresentam um crescimento, desde 1990, de 57,9% em 2020. As emissões provenientes do estrume dos animais em pastoreio constituem, em 2020, 67% das emissões da categoria, representando um aumento de 106,7% relativamente a 1990.
A queima de resíduos de cultura apresenta uma redução das emissões, desde 1990, de 46,6%, sendo mais pronunciada nos pomares (-55,1%) do que na vinha (-40,9%).
Ao contrário do que sucede noutros setores, o setor Uso de Solo, Alterações de Uso de Solo e Florestas é responsável, quer por emissões de gases com efeito de estufa, quer pelo sequestro de dióxido de carbono. O setor cobre alterações nos stocks de carbono que podem ocorrer tanto na biomassa viva, como na biomassa morta e nos solos. Cobre também emissões de metano e óxido nitroso de processos como fogos florestais e emissões diretas e indiretas que resultam da perda de matéria orgânica do solo. Os principais gases com relevância para o setor uso de solo são o CH4, o N2O e o CO2. No caso do N2O, são consideradas tanto as emissões diretas, como as emissões indiretas.
Este setor apresenta, em 2020, uma redução líquida de emissões correspondente a 1,0% das restantes emissões da Região. Esta capacidade de compensação do total de emissões regionais foi em 2020 menor do que ocorria em 1990 (-38,1%), causada quer pelo aumento das emissões nos restantes setores, quer pela redução significativa da capacidade de sumidouro neste ano. A capacidade de sumidouro líquido do setor Uso de Solo e Florestas em 1990 era de -423,7 mil tCO2eq. e em 2020 foi de -16,5 mil tCO2eq..
O sequetro líquido de GEE do setor atingiu -16 mil tCO2eq em 2020. A floresta é a maior categoria de sequestro com -75 mil tCO2eq. e as zonas urbanas a maior categoria emissora com 53 mil tCO2eq.
O setor de resíduos cobre as emissões resultantes da deposição de resíduos sólidos, do tratamento biológico de resíduos, da incineração e queima a céu aberto de resíduos e do tratamento e descarga de águas residuais. Os principais gases com relevância para o setor resíduos são o CH4 e o N2O. No caso do N2O, são consideradas tanto as emissões diretas, como as emissões indiretas.
Os emissões de GEE do setor representam atualmente 6,6% das emissões da Região, verificando-se uma diminuição do seu peso no total das emissões desde 1990 (11%). Este setor conheceu um decréscimo de 7,5% das suas emissões entre 1990 e o ano 2020, mostrando contudo uma relativa estabilidade das suas emissões.
A gestão de resíduos é o maior contribuinte para as emissões do setor com 51,9%, atingindo 58,7 mil tCO2eq. em 2020.